quinta-feira, 23 de maio de 2013

Víscera exposta

Deixou cuidadosamente o velho caderinho de capa de veludo de lado e partiu para a briga. Tomou um golpe seco e surdo na frente do nariz que o levou ao chão, seguido de uma espessa poça de sangue em que refletia o oponente rubro de raiva e punho cerrado, num misto de bazófia, desprezo e dó. Mais um dia de estudo em que não acabava bem. Chute no baço. Não sabia tratar as mulheres e com os homens a coisa andava de mal a pior. Ninguém o entendia, nem os mendigos, que lhe atiravam tranqueiras e impropérios enquanto se levantava do asfalto cheio de fuligem da matrópole quente, e as universitárias de dread-locks o olhavam com nojo, o fracassado em seus andrajos. Outro chute na têmpora. As moças bonitas o olhavam com pena, da mãe, é claro. E ouvindo um solo de trompete solando, o jovem nobre e polido recém golpeado pensou – a vida não anda fácil para os novos românticos. Chute no baço.