domingo, 7 de abril de 2013

Mudança

Ela repousou a xícara sobre a mesa, esboçou um sorriso que levantou sutilmente a orelha direita.A penugem alourada que cobria seus maxilares gentilmente se eriçando com seu entusiasmo. Disse. Eu quero isso, morar aonde você mora e ser diferente como você. Já é tempo, eu estou envelhecendo e nunca sai daqui. E nunca fui outra pessoa, mas você, você já foi várias, e ainda... Respirou tremula.

Eu me senti um tanto conturbada, meus dentes rangendo com o maldito bruxismo que os deixava lisos, e não cortavam mais nada. Nunca entendi essa percepção sobre minha vida e ainda mais agora depois de tanta mudança. Eu nunca quis ser eu, agora porque você? Permiti que meus pulmões inalassem um pouco daquele ar carregado de vapor antes que pudesse atrever uma reposta.

Você não entende. Sorri, e mordi os lábios de nervoso, enquanto meu pescoço dizia que não. Eu estou aqui porque eu tenho ele. Eu odeio esse lugar, eu odeio todas essas pessoas, mas isso não importa mais. Isso não importa as três da manhã quando voltamos juntos para casa ébrios, ele me carregando no colo o último terço do caminho e os dois rindo como duas crianças. Felizes. E o amor acontecendo debaixo dos lençois como nunca aconteceu antes. E as manhãs em que acordamos juntos eu posso me enrolar em seus braços enquanto toco mansinho sua pele alva toda pintada. Ele é a única coisa ainda...

Você não conseguiria. E eu nem quero que você tente, e eu não quero tentar te ajudar.

Uma lágrima escureceu os fios claros de sua pele. Uma enchente.